8 de out. de 2010

Mitos Tucanos

Do blog do Nassif/Postado por Ricardo Carneiro(Professor Titular do Instituto de Economia da UNICAMP)

Embalados pela campanha eleitoral, os tucanos resolveram ressuscitar um tema polêmico: o das privatizações da era FHC. A tese é a de que elas foram benéficas à economia e ao povo brasileiro e precisam ser defendidas. Os argumentos têm sido poucos e simplistas, recorrendo-se amiúde à ampliação do número de telefones celulares como exemplo do sucesso das privatizações. Claro, esse é o segmento no qual os resultados mais aparecem em grande medida, impulsionados pela revolução tecnológica havida no setor. Contudo, a questão é bem mais complexa e envolve variados aspectos. No balanço dos prós e dos contras esses últimos se impõem na maioria dos casos. Vejamos um deles, o dos preços dos serviços.
Não se pode afirmar que a qualidade dos serviços nas empresas rivatizadas melhorou de forma generalizada – a lembrança do apagão é indelével. Porém, mesmo que isto fosse verdadeiro haveria que se considerar o que ocorreu com os seus preços. O gráfico abaixo traz as informações relativas à evolução do índice amplo de inflação e dos preços administrados. Esses últimos envolvem um conjunto variado de serviço cujo peso no IPCA é de cerca de 30%. Desses, o conjunto produzido pelas empresas privatizadas abrange 15% do índice ou metade do total respondendo assim por uma parcela significativa da variação de preços no Brasil.

Os dados do gráfico são impressionantes e mostram uma verdadeira revolução nos preços relativos. Ao longo dos últimos quinze anos houve um significativo encarecimento dos bens e serviços públicos: para o período como um todo, enquanto a inflação geral ao consumidor foi de aproximadamente 150% acumulados, este sub-grupo subiu o dobro, cerca de 300%. Esses números apenas traduzem o que é sentido no dia a dia pelo cidadão: o peso no orçamento dos pagamentos das contas de luz, água, telefone, pedágio, etc.
Há ainda nos dados do gráfico um aspecto que merece ser destacado. O grande aumento de preços relativos, ou o encarecimento desses bens públicos ocorre durante os anos 1996 a 2002. A recomposição tarifária imediatamente antes e após as privatizações e as regras de indexação das tarifas por um índice de preços que reflete com maior proximidade a variação do dólar (o IGP-DI), foram os responsáveis por essa trajetória.
O Governo Lula herda esses contratos, mas logra obter um melhor resultado na evolução desses preços, por uma negociação dos seus termos, nas suas revisões periódicas, mais favoráveis ao cidadão. Isto para não falar da administração de preços cruciais como os dos combustíveis, que tiveram no passado recente uma alta significativa decorrente do contexto internacional favorável. Ou seja, prevaleceu no Governo Lula, a despeito da herança recebida, uma gestão que colocou os interesses da cidadania em outro patamar.

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