26 de dez. de 2010

O serviço prestado pelas teles privatizadas

Paulo Moreira Leite na Época digital
Eu, você e a torcida do Flamengo, do Corinthians e de todos os demais clubes passamos os últimos anos a ouvir uma reclamação política.
Vários comentaristas e observadores da campanha presidencial faziam uma pergunta: por que os tucanos não assumem as privatizações nas campanhas eleitorais e mostram essa bandeira como um legado positivo do PSDB? Não seria uma boa forma de ganhar votos?
É uma pergunta ingênua, na verdade. Uma reportagem de Nadja Sampaio, publicada hoje no Globo, ajuda entender a questão e explica em parte este mistério.
O jornal publica um levantamento do Departamento Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor, ligado ao ministério da Justiça, que aponta para as empresas que são campeãs de queixas do cidadão comum.
O resultado: entre as 10 primeiras, sete são empresas de telefonia — exatamente a jóia da coroa das privatizações, citada como grande exemplo de benefício obtido pelo eleitorado.
A partir dos dados da reportagem, é fácil concluir: se a privatização da telefonia trouxe investimentos e transformou o celular num bem de consumo popular — o que é ótimo — também garantiu uma reserva de caça às empresas que estão longe de prestar um serviço eficiente, compatível com o preço cobrado.
Todo cidadão que já foi ao posto de uma empresa de telefonia para tentar entender as tarifas cobradas indevidamente sabe do que estou falando.
E aquele que após muitas explicações e muitas perguntas conseguiu chegar perto da racionalidade das tarifas cobradas também percebeu que a privatização transformou um serviço público indispensável à vida moderna numa atividade altamente lucrativa para as empresas e extremamente custosa para usuários.
As empresas impõe planos que raramente são adequados a necessidade do cliente, vendem antecipadamente serviços que você não costuma utilizar e transformaram a conversas telefonicas — uma conquista da civilização, vamos reconhecer — num negocio a preços extorsivos para o consumidor.
É costume lembrar que, no passado, pagava-se muito dinheiro por uma linha telefonica que, hoje, sái de graça para o usuário — ao menos em teoria. As antigas linhas custavam o equivalente a R$ 5 000,00, o que não é pouco. Mas hoje muitas contas acabam atingindo essa quantia absurda em um ano ou mesmo em seis meses.  Houve ganho na comunicação? Sem dúvida. Mas é bastante relativo, vamos combinar.
Até por ignorancia, aceito a tese de que a privatização foi necessária porque não havia outra saída. Não vou discutir isso. Aceito a visão de que não havia investimentos nem tecnologia.
Mesmo admitindo que houve progresso, criou-se uma situação que ninguém consegue comemorar — e é por isso que a privatização tornou-se uma bandeira difícil, do ponto de vista popular.
Para o cidadão comum, aquele que só quer notícias de um parente enfermo u combinar um cinema com a namorada, a situação está longe de ser satisfatória. Como diria Ferreira Gullar numa peça de teatro dos anos 60, o mundo das reclamações do consumidor pode ser descrito assim: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come…”

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