23 de jan. de 2012

A longa prisão sem provas de Michel, negro e pobre

Comentário: a atual justiça criminal brasileira desvinculou-se dos ditames constitucionais. Os Juízes são tratados como defensores da sociedade e perseguidores de criminosos. Qualquer ação penal, não cabe mais ao ministério público provar, o réu é que deve provar a não participação. Se há dúvida mantem-se preso. Como é fácil trabalhar no ministério Público assim. Um sistema inquisitório onde àquele que deve ser imparcial, já vai para a audiência com opinião formada pelo que diz o Infalível MP e pela correta (sic) polícia brasileira. Bem vindo ao Estado de exceção!

De Paulo Moreira Leite
Num país que adora proclamar sua democracia racial, as autoridades deveriam ser treinadas para manter as aparências, pelo menos. Em outubro do ano passado, o agente de saúde Michel Silveira, 26 anos, foi levado à delegacia sob acusação de ter participado de um roubo a mão armada.
A única prova era a denúncia de uma das vítimas, que garante ter reconhecido o agente de saúde três dias depois do assalto.
O problema: câmaras de vídeo do local de trabalho de Michel mostram que ele estava no serviço na hora do crime. Colegas também garantem que um pouco mais tarde, estavam a seu lado. Mesmo assim, Michel ficou três meses na cadeia. Sem prova, sem um indício além de um reconhecimento feito na rua, por uma vítima. Três meses não são três horas nem três dias nem três semanas. Tem gente que tem emprego que dura três. Ou que faz um cursinho de três meses e depois presta vestibular. Michel passou o Natal e as festas longe da família. Por duas vezes amigos e parentes apresentaram recurso para liberá-lo.
Nada. A soltura só foi definida quando se apresentou um terceiro recurso. Racismo é isso. O sujeito está empregado, tem documentos, aponta testemunhas e pode até mostrar um vídeo — se a polícia tiver interesse em assisti-lo. Mas outra pessoa não enxerga nada disso. Só vê a cor da pele, aquilo que muita gente chama de raça. E aí define uma opinião e uma atitude.

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